É estranho quando, de repente, alguma coisa deixa de acontecer: deixa de acontecer dentro da gente, ou fora, nos céus. Mas o que é mais estranho ainda é quando algo de repente acontece, assim, de repente, nada mais que de repente. E são essas coisas que talvez tragam o presságio da bonança tão prometida durante uma tempestade.
Por acaso, ou por destino não sei, três solidões se encontram, e essas se encontram com o mato, o rio, o barro.
Pés descalços pra sentir o chão de terra, cheiro de caatinga...
E o que acontece? Um poema é óbvio!
Os avessos de Vinícios
De repente, nada mais que de repente
O que era triste fez-se alegre
O que estava só viu-se acompanhado
O que chorava deu-se a sorrir
O que estava sóbrio fez-se embriagado
O que escutava Cartola ouviu Janis Joplin
O que caminhava pelo asfalto fez-se andar pela estrada de barro
O que sentia-se preso a si mesmo viu-se libertado
De repente, nada mais que de repente, o acaso estendeu os braços a quem procurava abrigo.
Faltava-lhes o peso de um erro grave, que tantas vezes é o que abre por acaso uma porta.¹
1 Clarice Lispector em Os obedientes
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